"Eu não sou uma sonhadora. Só devaneio para alcançar a realidade!" C.Lispector

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

não consigo entender nada.
um cara dorme na calçada
bem de frente
pra uma mercedes estacionada


quinta-feira, 17 de abril de 2014


16 de maio de 1958
Eu amanheci nervosa. Porque eu queria ficar em casa, mas eu não tinha nada para comer.

... Eu não ia comer porque o pão era pouco. Será que sou eu que levo esta vida? O que posso esperar do futuro? Um leito em Campos de Jordão. Eu quando estou com fome quero matar o Jânio, quero enforcar o Adhemar e queimar o Juscelino. As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos.


Carolina Maria de Jesus 
Quarto de Despejo, Diário de Uma Favelada.

"Diga ao primeiro que passa que sou da cachaça mais do que do amor."
Chico Buarque de Holanda



acompanho o deslocar das nuvens,
o balançar das árvores.
penso em você
- que me olha, mas não vê.
vou passando,
com a enxurrada da chuva de ontem,
que mesmo indo,
vai deixando pedaços
ao longo do caminho
que pisam. (às vezes, dançam).
você
- que não me ouve assoviar
desejando ser ave
a voar,
despencar.
vou passarinhando
de boteco em boteco,
tico-tico, reco-reco,
carregando esperas e
esperanças.
aos desesperados
que trazem lembranças,
querendo esquecer,
canto
e conto
que no mais fundo da solidão,
na última gota do litrão,
na cinza que atinge o chão;
a saliva que engasga,
a fumaça que sai,
a nota que brota,
são as companheiras
mais verdadeiras
da alma;
os olhos, o suor,
as lágrimas, os calos,
compõem musicas
embriagadas,
que saem tortamente
derrubando sonhos
ao chão
e transbordando dores
na canção
clima de liberdade no ar, provisória.
a tal saidinha que o dr. fala desde sempre
finalmente chegou,
vai ver os filhos com anos a mais
que quando rodou
na mão da milícia,
flagrô?!
foi mesmo flgrante,
taxado de traficante:
cocaína, 70kg de branquice
(uns tantos colocados
pela polícia federal,
mas não faz mal,
o que importa é o 'bem estar social')
agora,
pra sempre um marginal.
mané que pensava ser malandro
só queria escolas boas,
e brancas,
(como a maldita farinha),
no futuro das crianças.
sabe?
coisa chique de bacana.
a avó fazia papel de mãe.
essas coisas de direito de preso,
indulto de natal,
na faculdade nunca aprendi.
vai ver contrariava
a vontade do cardial.
mas colegas academissistas
continuam a insistir
que bandido bom é bandido morto
e que se tá preso é porque quis.
a televisão mete medo
nos fãs de controle na mão,
que não mandam nem em suas próprias vidas
e querem botar o bedelho na da prisão;
soltam nos horários nobres
notícias, pasmem!, de pobres,
sensacionalizando
que não voltam pra cadeia
depois da santa ceia;
e na segurança dos altos muros
de seus apartamentos vigiados
a classe média treme o rabo.
essa mesma gente que arrota
dizendo existir "bolsa preso"
sua frio de medo.
se fosse assim tão no sossego,
quem não iria querer?
moleza,
o Estado como camareiro?
vai lá! entrar na fila que eu quero ver!
segura essa hipocrisia
que o espírito natalino
vem carregado de perdão;
e se indulto é graça
começa então ser cristão!
pensa no cara
que não vê a rua
os filhos, a mãe, a mulher,
os irmãos;
pensa nos helicópteros
que continuam a pairar
com as mesmas drogas
à beira mar;
na conta de políticos
400kg é pouco
pro banco lavar.

a guerra às drogas cheira esgoto,
e os representantes do povo
tem indulto natalino
o ano todo.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

o sol quase raiou e 
nos meus ouvidos estalou
o cantar de um passarinho.
bem de mansinho
a cidade acordou,

fui dormir
longe do ninho.
 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

meu corpo em festa, dança.
revira a cabeça
cheia de andanças,
vira e mexe
imagina uma esperança.
arrasta as sandálias
num forró
pelas gramas do chão 
que reluzem no sol do verão;
bem verdinhas,
que nem limão;
bem verdinho aquele
na mão -
e o pensamento vai longe,
que nem pássaro
voando na escuridão.
gingando pelos espaços
inúmeras sensações
tudo junto sai rodando
coreografando emoções.
tomo a liberdade
por parceira no salão,
me embriago de cachaça
poesia
e canção -
limpando por dentro,
vai ardendo por fora
queimando tudo quanto me dão
de dor e de não.
a fumaça e eu
rodopiando pelo salão,
bailando dentre as vidas
sem parar ou pairar
em uma só ida.
as possibilidades de
entrelaços
nos percalços
são infindas.
por que apenas um par
se eu quero
toda a quadrilha?

sábado, 23 de novembro de 2013

queria poet.ar-te,
pintar o 7 com teu corpo
no meu.
ou talvez um 69.
lambuzar-me de esperança
colorida como tinta
espalhada nas mãos das crianças.
am.ar-te,
ir à m.arte
e à morte
para encontr.ar-te
- como um quadro inacabado
que tudo diz,
pendurado na parede do meu estômago.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Ossos aparecendo
sem passarela para desfilar;
na marginalidade
não houve aplausos ao passar
- apenas tiros,
xingamentos.
Tiraram-lhe a casa,
a comida, a escola e
atiraram-lhe uns sacos
com pó branco
pra passar de mão em mão
[brancas]
e parar ao som do rojão.
Jogaram-lhe moedas
e a dignidade no chão
que saiu tropeçando
pra catar junto com o papelão.
A sonoridade que conhece
é esse tal de "ão":
Toda porta tinha um não,
toda boca um pega ladrão!
O que mais sente
é medo do caveirão,
criança que nunca soltou pipa
nem rodou peão
vai ser apenas mais um
na mão do patrão
ou dentro do caixão.

terça-feira, 25 de junho de 2013

a criança chupando a bala,
docinha,
como seus sonhos.
o pm soltando a bala,
de borracha,
na cara da manifestante.
na periferia,
o menino que sonha em ser rei
com coroa de ouro,
só recebe chumbo
da bala
estatal -
que fura seu tórax, pulmão,
coração,
e deixa vermelho o colar de prata
de camelô no peito do seu irmão.
mas na televisão só tem lugar
pro sangue da jornalista de noticiário,
do filho de empresário
que levantou cartaz e foi acertado
por um estilhaço de bomba
de gás lacrimogêneo.
chorou
que nem mãe de detento.
esses da bala de borracha,
do sangue de primeira capa,
voltam sempre pra casa -
e a única bala que irão tomar
é na rave pra viajar.
esses da bala de chumbo,
bala que cheira a defunto,
voltam sempre pro barraco,
e engolem sem mastigar
essa bala
que também faz viajar
pra debaixo da terra -
e nunca mais voltar.