"Eu não sou uma sonhadora. Só devaneio para alcançar a realidade!" C.Lispector

terça-feira, 11 de setembro de 2012


os olhos marejados. marujos que ali naufragaram, pediram socorro e se mataram.
um olhar apenas.
um pouco 43, um tanto de ressaca - do mar de pinga que mergulhou de cabeça, ontem no bar. amanheceu na rua, ou a rua amanheceu em si. tanto faz, o que importa é que a merda do Sol estava batendo em seu rosto lhe fazendo querer esconder os olhos. os mesmos olhos de sempre. não que fossem olhá-los, e aquelas olheiras; talvez olhassem, e desviassem - como sempre fazem com mendigos, por medo de pegarem, no contato indesejado, um pouco de humanidade.
claridade.
jurava que o marejado era da luz ofuscante que cortava as nuvens sem ninguém pedir, e era. manejou a vida toda pra olhar para os lados antes de atravessar, como se atravessar fosse um ritual. atravessou a vida toda, ritualisticamente, e não chegou a lugar algum.
atravessar era uma linha imaginária. o carro, que atravessou seu corpo, era real.

3 comentários:

  1. Palavras bonitas. Já escrevi um texto assim, uma vez. Dói. Dói ler e dói escrever. Dói cada palavra desnuda, trasbordante de realidade.

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"Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando - até que não caibo em mim e estouro em palavras." - C. Lispector