"Eu não sou uma sonhadora. Só devaneio para alcançar a realidade!" C.Lispector

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

gume da vingança

A noite sombria e pesada se fez presente em cada músculo de seu corpo, que estavam rígidos, endurecidos pela raiva que a dominava. Ela tinha uma faca, e uma escolha - e como tantas outras, poderia ter consequências benéficas ou apenas descontroláveis. O maldito não estava tão distante, habitava o quarto de costume nesse hotel que tão pouco atenção chamava. Toda sexta ele se embrenhava num lençol estranho, com uma mulher estranha. Acabava com elas, as extorquia e retorcia emocionalmente. E o que ela mais queria agora era extorquir o sangue rubro-negro daquele corpo infame, que não merecia sequer respirar. Seria mais fácil que tirar doce da boca de criança, ela o havia visto voltar da farmácia com calmantes, e o viu pedir uma garrafa de scotch ao garçom do hotel, ele talvez não acordaria nem com a faca perfurando-o. Era a faca do nosso jogo de jantar que ele mais gostava, que usava para me preparar refeições deliciosas, com aquele sorriso que eu pensava que era só meu. Mas é claro que ela foi minuciosa, e levou fitas adesivas para calar aquela boca que só sabia dizer mentiras. Se levantou no seu vestido de seda preto, peculiarmente escolhido para aquela ocasiã. Seria a única vez que ela o usaria. Foi andando pelo corredor até chegar à porta dele, sabia que a mulher que o havia deixado dormindo sozinho deixou a porta aberta, pois ele pegava no sono depois do sexo e ela não tinha chave alguma do quarto. Levemente virou a maçaneta com suas luvas delicadas, e viu aquele corpo que ela conhecia de cor estirado na cama, uma cena para se guardar, a última imagem que carregaria dele. Alisou o corpo dele delicadamente, com a faca, centímetro por centímetro, a lâmina fria desenhando desejos na carne. Ela o amarrou de costas para cima e tampou sua boca, não queria aquele olhar que revirava sua alma e estômago olhando nos seus olhos claros quando finalmente consumasse seu plano. A lâmina rasgava a carne pouco a pouco, o corpo começou a agonizar, tremer, chorar entre os poros.
Minutos depois, ela estava longe dali. Policiais chegaram algumas horas mais tarde e viram a cena do crime, acharam estranho o bilhete deixado em cima da
vítima escrito com sangue: a faca que me fazia lembrar você agora lhe marcou para sempre, para você nunca me esquecer.

5 comentários:

  1. nosso instinto assional sempre há de nos trair. como vitimas ou como mentores.

    adorei.

    http://terza-rima.blogspot.com/

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  2. as vezes mais como vitimas e as vezes mais como mentores..


    Reforcinho POSITIVO:

    POST sim, post tudo o que você tiver vontade! Com ou sem comentários, se vão achar legal ou não! O BLoG É SEU! Não deprima... você é arte! 'Faz parte do SEU show'.. meu amor!

    Abraços, Poetíssima #

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  3. Sua narrativa é incrível, apesar te ser um tipo de texto mais pesado, ele foi muito bem escrito. Ah, uma das partes que me chamou bastante atenção foi"Se levantou no seu vestido de ceda preto, peculiarmente escolhido para aquela ocasiã. Seria a única vez que ela o usaria."

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  4. Que vingança! Há sabedoria por trás das palavras de seu texto! abraço

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"Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando - até que não caibo em mim e estouro em palavras." - C. Lispector